Independente
A Garra de uma Torcida
Sua história começa em março de 1972. O São Paulo disputava a Taça Libertadores da América no Paraguai. Seus adversários, o Cerro Porteño e o Olímpia. Os torcedores uniformizados (TUSP), estavam animados, pois era a primeira vez que compareciam aos jogos no exterior. Os preparativos começaram muito bem. Fretaram 8 ônibus. Pagaram pela excursão, incluindo hospedagem. Na bagagem dos organizadores, muitas camisas e brindes para serem distribuídos aos simpatizantes do São Paulo. No entanto, a viagem teve o amargo sabor da derrota. O time perdeu o primeiro jogo na quarta-feira por 3 a 2, para o Cerro Porteño e a torcida, a confiança na diretoria da Tusp. "Não bastasse o time ter perdido, descobrimos que os cabeças da torcida ficariam hospedados em hotéis 4 estrelas e os demais em pensões. Para completar, ficamos sabendo que em vez deles de distribuírem os brindes e camisetas, estavam vendendo", lembra Newton Ribeiro, um dos fundadores da Independente. Foi a Gota d'água. Na volta da excursão, logo após o último jogo, no domingo (São Paulo 1x0 Olímpia), no próprio ônibus já se começou a cogitar formação de uma facção da torcida. A idéia se concretizou durante um jogo no Pacaembu quando Newton foi procurado por Ricardo Rapp, Rinaldo Cardoso e outros dois torcedores descontentes para discutirem a formação da nova torcida. Mais tarde juntaram-se a eles um grupo, de 40 jovens, que há algum tempo, estava insatisfeito com as muitas regras impostas pelo pessoal mais velho da Tusp.
As dificuldades para a fundação da Independente foram muitas. A começar pelo diretor social do São Paulo, Arnaldo Ruick, que não aprovava a formação da nova torcida. "Dizia que isso era coisa de corinthiano e maloqueiro", conta José Carlos Zabeu, um dos torcedores da ala jovem. Outro problema que tiveram de superar foi a falta de um local para as reuniões. Para a primeira, emprestaram uma das salas da Esfera Tour Turismo, na Av. Ipiranga. Nesse dia grandes decisões foram tomadas e a principal foi a escolha do nome. Pensaram inicialmente em colocar o nome de animal, muito comum na época. Mas, Ricardo Rapp, inspirado nos vários movimentos de independência que estavam ocorrendo no mundo, sugeriu o nome de Independente que, que inclusive traduzia bem os ideais da torcida, "de total independência do clube". Surgiu assim, o nome "Tricolor Independente". O passo seguinte foi a definição da camisa. A eleita foi a do uniforme um, já que a Tusp usava o uniforme dois. Depois organizaram a diretoria, composta por: Newton Ribeiro, presidente; Rinaldo Cardoso Leite, vice-presidente; Ricardo Rapp, coordenador de campo e tesoureiro; Célio Perina, José Octávio Alvez Azevedo, Plínio Peloso, José Oswaldo Feitosa, sem cargos específicos. Nessa reunião ficou ainda resolvido que só usariam bandeirões bem grandes de quatro por seis metros com o nome da torcida, para chamar atenção nos estádios; e também que a torcedora símbolo seria dona Filinha, figura muito querida dos são-paulinos. A data oficial da fundação da Independente ficou sendo a de 17 de abril de 1972. Seus estatutos ficaram prontos no dia 9 de junho do mesmo ano. Para ser sócio bastava ser são-paulino, ter duas fotografias e contribuir mensalmente com Cr$20 mil, como é até hoje, mas com valor diferente.
Nos Estádios
A luta no campo não foi menor. Tiveram de brigar por um espaço na arquibancada e no estádio, para guardar o material, e, ainda conquistar novos torcedores. O primeiro jogo ao qual a torcida compareceu oficialmente foi no dia 23 de abril de 1972, no Estádio do Pacaembú. O São Paulo jogava contra a Portuguesa de Desportos. A primeira preocupação foi o espaço a estabelecer na arquibancada, já que na época a Tusp ocupava todo o local. "Nos optamos pelo meio", explica Newton. Lugar estabelecido, partiram em busca de novos associados. "Cada torcedor que víamos com a camisa do São Paulo era convidado a se integrar à Independente. Foi desse modo que encontraram os primeiros associados. José Carlos Zabeu, Mário Luiza Marcondes (Cida), Luis Alfredo (Turiassu) entre outros. A cada jogo o processo se repetia. O trabalho era cansativo, mas o mais desgastante era não ter onde guardar o material (a sala da Av. Ipiranga só ficou emprestada por 3 meses). Dia de jogo, eram obrigados a chegar muito mais cedo aos estádios, porque tudo era feito lá mesmo com algumas horas de antecedência. "Tínhamos de cortar o bambu (conseguidos no cemitério das redondezas), confeccionar as hastes da bandeira, pois não tínhamos como transporta-las, colocar as faixas e ainda brigar pelo lugar", conta Newton. O sufoco chegou a tal ponto que resolveram procurar o conselheiro do São Paulo, Paulo Planet Buarque, para pedir um espaço no Morumbi. A reunião foi marcada com o conselheiro de obras do estádio, Antonio Numes Leme Galvão. Porém, o tema do encontro acabou sendo a própria torcida: "Eles queriam que desistíssemos. A sala foi conseguida depois de um ano de muitas idas e até lá".
Paralelamente, a luta por uma sede continuava. A maior dificuldade foi com os proprietários, que negavam a locação logo após saberem o motivo da procura. Enquanto isso, os encontros se realizavam na Galeria Guatapará, na rua 24 de Maio, ou no Largo do Paissandu, a céu aberto. "O País passava por uma época de muita repressão e ditadura. Sempre éramos molestados pela polícia, que não podia ver um grupinho reunido, já desconfiava tratar-se de um complô", recorda Newton. Recorreram, também, a diversas pessoas que se diziam dispostas a ajudar, mas nada conseguiram. "A solução veio do Dr. Toledo que nos cedeu uma sala de uma firma de café falida, da qual era fiel depositário, na própria Galeria Guatapará. Mais tarde conseguimos alugar a sala ao lado".
Bateria - Independente até no Samba
Ter a melhor bateria sempre foi o ponto de honra da torcida. A Independente hoje se constitui em um bloco carnavalesco com mais de 400 integrantes. A Independente durante os 3 primeiros anos foi pequena, tendo em média 200 associados. Porém isso não a impediu que se destacasse das demais pelas bandeiras bonitas e por sua bateria. Esta última, ponto de honra da torcida. Para isso, lançavam mão de todos os recursos, contratavam baterias e até cordões carnavalescos. A primeira a acompanhá-la foi o Fio de Ouro, do Rômulo e Remo. Depois seguiram-se a Imperador do Ipiranga, do Paulo; Os garotos da Chácara Santo Antonio e, por último, a Cabeções da Vila Prudente, que permaneceu até a formação da sua própria bateria no começo dos anos 80, criado por amigos da roda de samba no bar do Waldemar, no bairro do Imirim. Atualmente a Independente participa do desfile de carnaval de São Paulo.
Caravanas - Os Salvadores da Pátria
A primeira caravana da Independente para Piracicaba não traz boas recordações para seus integrantes. O São Paulo disputava o Paulistão 72. A torcida alugou um ônibus mas somente 15 torcedores apareceram. Porém a segunda viagem para Araraquara, ainda durante o campeonato, foi muito importante, pois trouxe a pessoa que iria por as suas finanças em dia: Arari Guimarães. Ele chegou por meio de um anúncio publicado na Gazeta Esportiva. Um recurso para completar a lotação do ônibus que, até aquele momento estava apenas com 20 reservas. E ainda levou mais 10 pessoas para a viagem. Porém a sua revelância não se resume a isso. "Por ser uma pessoa de muita responsabilidade, nós o convidamos para ser o tesoureiro. Foi graças a ele que conseguimos tocar a torcida para frente". Segundo Newton, antes do senhor Arari, não se podia dizer que a contabilidade era perfeita. "O dinheiro arrecadado ficava no bolso e, ás vezes servia de pagamento das rodadas de cerveja do Bar Ponto Chic, no centro da cidade, o ponto de encontro da moçada". Em contrapartida, quando a Independente se encontrava em dificuldades financeiras, usávamos os próprios recursos para saldar as dívidas". Na época, o crescimento da torcida dependia diretamente do desempenho do time, de 1972 a 1974, período em que o São Paulo não ganhou campeonatos, o número de associados caiu. Para reverter o quadro, algumas pessoas iniciaram uma campanha em rádios e jornais e lançaram também o "São Paulino Amigo" (um folheto para ser distribuídos nos jogos) na tentativa de popularizar a Independente, mas o grande impulso foi dado pela própria polícia. Em protesto a proibição do uso dos instrumentos musicas no campo, Nilson confeccionou faixas com os seguintes dizeres: "Silêncio estamos jogando"; e o corneteiro passou a tocar a marcha do "Silêncio". "Foi um sucesso e todos os meio de comunicação deram destaque a notícia" informa Newton. De 200 associados chegaram a 1 mil, em um ano.
A Nova Independente
Em agosto de 1995 ocorreu uma briga no Estádio do Pacaembu entre a Torcida do São Paulo e a torcida do Palmeiras que, infelizmente, a F.P.F. proibiu a entrada nos estádios e a Justiça, por meio do Ministério Público anos depois, fechou a entidade Torcida Tricolor Independente. Nesses meses de proibição muita coisa aconteceu na Independente e alguns diretores, fundadores e associados foram afastados por ações não dignas de pessoas que amam a Torcida. Assim, em 11 novembro de 1998, foi fundada o G.R.E.C. Tricolor Independente com novos fundadores e também uma nova diretoria, todos unidos em prol da nova agremiação que começava do zero, mas usava o respeitado nome Independente. Após a fundação, os primeiros problemas começaram a surgir. A Tricolor Independente não possuía sede, material e muito menos dinheiro em caixa.
"A Retomada" e a volta aos Estádios
A Independente foi a única torcida que foi “tomada” por alguns ex-diretores e associados, pois estavam insatisfeitos com a diretoria dela que era bancada pelo São Paulo e gastava dinheiros em fins particulares (assim deixando a torcida com dividas superiores a 250 mil reais e nome sujo na praça). No final de 2002, o bonde de Batata e Negão assumiu a torcida, sem dinheiro, com dívidas e sem ter um material na sede. Em pouco tempo a torcida já estaria com novos fornecedores, diversas sub-sedes e caravanas para todo mundo.
A Retomada é o Terror
Como maior feito desta atual diretoria, conhecida como “A Retomada”, foi a volta aos estádios paulistas com nossas faixas, camisas e bandeiras. Graças a cooperação e o trabalho junto com Ministério Público e a Policia Militar. A INDEPENDENTE pôde finalmente colocar uma faixa em um estádio de futebol em São Paulo com seu nome.
Dragões da Real
Em 1986, a Dragões começava a se destacar e ficar conhecida por todo o Brasil e, só naquele ano, mais de mil são-paulinos se associaram, tornando a Dragões uma da maiores torcidas organizadas do país. O auge foi a final do campeonato brasileiro contra o Guarani, quando a torcida levou quase 2.000 sócios para Campinas. Em 1987, a torcida continuou crescendo, renovou as bandeiras, faixas, instrumentos musicais e passou a possuir um patrimônio de dar inveja em muitas torcidas. As bandeiras se destacavam na arquibancada em qualquer que fosse o jogo, sempre foram as mais bonitas, a criatividade e a vontade em crescer sempre foi a "arma secreta" da Dragões.
O ano de 1988 não foi dos melhores para o nosso Tricolor e os problemas começaram a surgir. O interesse dos associados pela torcida diminuiu e a entidade passou por muitos problemas, culminando com a perda da sede da Cásper Libero. Porém, no final de 1990, um pequeno grupo de associados resolveu dar a volta por cima e começar tudo da estaca zero. Uma nova diretoria foi eleita, deu-se início a um recadastramento no quadro de associados e tudo começava novamente, idéias foram lançadas e o trabalho foi iniciado.
Em novembro de 1992, a Dragões adquiriu a sede da Prestes Maia, onde está até hoje. Em 1994, abrimos nosso belo bandeirão pela primeira vez nas arquibancadas do Morumbi. O nosso objetivo foi alcançado, colocamos a Dragões de volta à posição de uma das maiores torcidas do futebol paulista e, atualmente, o São Paulo FC é o único clube que pode contar com pelo menos duas torcidas realmente grandes. No início da década de 90, a torcida publicou o Jornalzinho da Dragões, cuja maior alegria foi conseguir uma Entrevista Exclusiva com Mestre Telê Santana, que de quebra ainda posou pra fotos com o boné da Dragões.
Em agosto de 1995, o lamentável incidente ocorrido no estádio do Pacaembu resultou em uma portaria da Federação Paulista de Futebol, que com o apoio do Ministério Público e da Polícia Militar do Estado de São Paulo, impediu a entrada de faixas, bandeiras e uniformes que identificassem as torcidas organizadas nos eventos esportivos no estado de São Paulo. Essa proibição acabou enfraquecendo todas as torcidas organizadas paulistas. Entretanto, em 1999, um grupo de abnegados associados da Dragões resolveu novamente reerguê-la. Nesta época, a torcida se identificava nos estádios paulistas com faixas e camisetas com os dizeres "Uma vida de amor ao São Paulo FC".
Em 2001, outra grande alegria para a torcida: a então recém-criada Escola de Samba da Dragões da Real é campeã do carnaval paulistano na divisão de acesso logo no seu primeiro ano de desfile. Mais uma vez, os são paulinos mostraram sua força também na avenida.
No novo milênio, o objetivo da torcida continua o mesmo desde que foi fundada: acompanhar o São Paulo FC onde quer que ele esteja. Não importa o estádio, não importa a distância, quando o SPFC estiver em campo, sempre vai haver uma faixa da Dragões da Real na arquibancada.
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